Juízes togados ou reús nus


Enquanto, coexistirmos com os preconceitos que nos rodeiam sem que esses nos incomodem. Enquanto, estivermos imobilizados sem querermos produzir uma notória insatisfação, continuaremos caminhando rumo à decadência de nossa sociedade. Há muito a humanidade se prendeu a conceitos e idéias que invadiram suas mentes sem a devida consciência e reflexão e se perdeu em dogmas que eram subprodutos da conveniência de manipuladores da fé.
Não sei onde faltou em nosso percurso o entendimento de nossas fraquezas e defeitos para imaginar que em detrimento do outro temos uma superioridade que nos faz menosprezá-lo e derrubar seus muros com a destreza de quem possui uma marreta que denominou de sensatez. Ser sensato é a última coisa que somos, pois muitos dos defeitos e preconceitos acentuados no outro pelos holofotes que lhe são colocados, pois é assim que conseguirmos ver com clareza o outro, são até mesmo em uma potência maior, embora não revelada aos olhos alheios, os nossos próprios defeitos. A partir disso, posso compreender porque Cristo olha aquela mulher adúltera diante de si e se move em compaixão. O texto não diz que ela não tinha cometido aquele erro, ele pode até asseverar que o cumprimento da lei estava incompleto, pois não somente ela deveria ser apedrejada, mas também o companheiro da amalgama sexual. Entretanto, aqui a conveniência não mostra a face do sujeito oculto dessa construção, mas a esconde pelo vil desejo da parcialidade no julgamento. A mulher era a isca, Jesus o objetivo. Mas, como um peixe que salta da água dando esperança de cair nas redes desses pescadores oportunistas, todavia se arremessa para longe da emboscada, Jesus faz com que eles fiquem agarrados em seu próprio anzol. Estão atrapalhados, pois ao alçarem distância na vara para alcançar o outro lado do rio, não perceberam que suas bocas maledicentes estavam presas no anzol. Ela tinha pecado, por que então não acusá-la? Jesus poderia ter dito: Vamos puni-la, mas de outra forma, não o apedrejamento. Entretanto, faz com que seus acusadores percebam que teem teto de vidro, e que o que ela comete é a reprodução de seus atos concretos, embora não revelado por ninguém, ou mesmo abstratos, isto é, aqueles que reinam em cabeças fantasiosas e que doentiamente absorvem sexualmente o outro ou a outra em suas camas virtuais. A mulher acuada espera seu veredito. Cristo promove os juízes togados em réus confessos, quando estes deixaram suas pedras/malhete caírem no chão e saem um após o outro. Como quem espera enxergar a surpresa nos olhos alheios, Jesus lhe pergunta: Onde estão seus acusadores? Não os vejo! Eles se foram! Responde a mulher com fardo diminuído, mas ainda não retirado, pois o que aquele homem queria e faria dela. Ele enxerga dentro da sua alma e percebe o titubear de seu coração ainda condenado. Jesus diz: Eu também não te condeno, eu te perdôo. Vai e não peques mais. Por que aquele que seria infalível em seu julgamento, absolveu? Ele o fez por conhecer a estrutura do ser imperfeito que estava diante de si. E, você vai continuar batendo o martelo acusando pessoas que te incomodam tanto por refletirem os mesmo erros seus embora a luz dia enquanto o que você faz está obscurecido pela aparência?
Tiago Sant’Ana Cezar

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